domingo, 20 de novembro de 2011

Como a noite descesse...


Como a noite descesse e eu me sentisse só, só e
                 [ desesperado diante dos horizontes 
                 [ que se fechavam,
gritei alto, bem alto: ó doce e incorruptível
                 [ Aurora! e vi logo que só as estrelas 
                 [ é que me entenderiam.
Era preciso esperar que o próprio passado
                                           [ desaparecesse,
ou então voltar à infância.
Onde, entretanto, quem me dissesse
ao coração trêmulo:
— É por aqui!

Onde, entretanto, quem me dissesse
ao espírito cego:
— Renasceste: liberta-te!

Se eu estava só, só e desesperado,
por que gritar tão alto?
Por que não dizer baixinho, como quem reza:
— Ó doce e incorruptível Aurora...
se só as estrelas é que me entenderiam?
 
Emílio Moura
fonte: Itinerário Poético — Poemas Reunidos
   
Editora UFMG, 2a. edição - Belo Horizonte, 2002